CAPÍTULO 05

O GRUPO EXPEDICIONÁRIO

 

Após a nomeação de Yann como o novo “Pastor”, várias reuniões ocorreram, mesmo que sua presença, naquele momento, só representasse mais uma pessoa à mesa de reunião, mas isso o deixará cansado ao raiar o dia. Ele não conseguia entender como havia tantas coisas a serem avaliadas, como haviam tantos pontos ao redor da vila que não conhecia e como haviam tantos problemas necessitando de resoluções.

Nos mais profundos pensamentos de Yann, um momento ele sabia que acabaria se tornando o “Pastor”, e isso aconteceria quando encontrasse a mulher de sua vida, quando juntos construíssem uma família e quando seu pai estivesse bem velhinho não mais podendo exercer tão competentemente a função que lhe cabia.

Mas os eventos mudaram, uma grande responsabilidade estava agora sobre seus ombros, e o raiar de um novo dia veio cobrar seu preço. Ele via sua casa aparecendo no horizonte, já que não ficava tão longe da Casa Central, local onde agora seria sua principal “morada”. Não demorou muito, mas a caminhada com seu pai, que agora estava um pouco mais leve, um pouco menos atarefado, mas tão preocupado como durante as reuniões foi algo que ele apreciou bastante. Há semanas que eles não mais estavam tendo um tempo de pai e filho, e pelo menos a caminhada, já ajudava a unir mais esses laços que eles tanto prezavam.

Seus Pokémons os acompanhavam, interagindo entre eles, já que por sempre estarem juntos, desenvolveram uma relação de parceria também muito grande, como grandes amigos, irmãos. Ao chegarem a frente, Yann observou a bela casa perolada, sendo recebido por um belo jardim bem cuidado e com lindas espécies de flores das colorações mais variadas, banhadas pelas gotas de orvalhos da noite anterior, exalando um cheiro doce e suave, muito agradável ao olfato e bem característico da mãe do garoto.

O dia não estava com um lindo sol raiando, na realidade, demonstrava uma aproximação de tempestade no meio do caminho, nuvens negras e carregadas estavam se formando e os raios de sol singelos eram escondidos por elas.

Ao entrarem na casa, os dois caíram sob a cadeira da sala e foram bombardeados de perguntas por Paola, a mãe de Yann e esposa de Wilson, uma mulher atraente, com 40 anos e muita garra para conseguir aquilo que deseja, e no momento, ela queria muito saber tudo que estava acontecendo e, porque, seu marido e filho não haviam dormido em casa.

Ela perguntou sobre os comentários que rolaram na noite anterior por toda a vila e demonstrou indignação por não poder comparecer às reuniões e por Wilson ter feito Yann participar das decisões, nas quais ela sabia que necessitava de muita experiência e responsabilidade, dois fatores que faltavam em muitos momentos para o garoto, já que seu impulso de aventura sempre falava mais alto.

Eles então passaram um bom tempo descansando e explicando a Paola tudo que havia acontecido, desde os problemas com os Tauros, a morte do Oddish, até a nomeação de Yann como Pastor, o que a deixou mais preocupada e orgulhosa. Chamando Wilson de inconsequente e desejando a Yann toda a sorte do mundo, entre choro e lágrimas.

Paola não deixou a conversa morrer naquele momento, e levou os dois para a cozinha, da qual exalava deliciosos odores proporcionados pelo delicioso café-da-manhã que ela havia preparado.

– Já que eu não pude estar na reunião, pensei que vocês pudessem estar com um pouco de fome. – Olhando de soslaio para os dois, aproximou-se do seu companheiro Jigglypuff, um Pokémon com pelos belissimamente cuidados, de uma coloração rosada brilhante e grandes e carismáticos olhos azuis turquesa.

Os pratos de massas e cereais estavam exalando aromas acentuados por toda a cozinha e as frutas estavam com cores que aumentavam a sua possível suculência, adoçando ainda mais o seu sabor. Os legumes, cozidos perfeitamente ao ponto, não ficaram moles ou duros demais, estando no ponto exato, além do delicioso suco de mistura de frutas que somente Paola sabia como realizar, uma mistura de frutas vermelhas, com gosto bem distinguível de acerola, morango e maçã, entre outros.

Os Pokémons ficavam em um local separada da cozinha, porém dentro da casa e se alimentavam com rações tão gostosas quanto comidas humanas, às vezes sendo compartilhada, tanto a ração, quanto a comida, pelas duas espécies de seres vivos da casa. A relação entre eles sempre foi muito próxima, os Pokémons possuíam banheiros dentro da casa voltados especificadamente para aqueles que apresentassem características humanóides e aqueles com anatomia diferenciada, poderiam utilizar os arbustos na parte posterior da casa, que eram “adaptadas” e com fossas para dejetos dos Pokémons.

Após o jantar, Yann se despediu dos pais, com um caloroso “Boa noite” e abraçou o pai, que o retribuiu de forma tão intensa quanto o primeiro, seguindo para abraçar a mãe que se derramava em lágrimas quando ela o beijou na bochecha.

– Meu filho, que você tenha toda a proteção que os grandes Pokémons possam te propiciar e espero que seu pai, ...– olhando de forma ameaçadora e fixa para Wilson, que, se fosse qualquer outra pessoa que não tivesse convivido por mais de 20 anos com essa mulher, teria perdido o rumo do que estivesse fazendo pelo medo que tal olhar provocava –... possa te dar o apoio tão necessário nesse momento. Que ele não deixe o fardo que tantas vezes ficou somente sobre as costas dele se acumularem na sua.

– Não se preocupe mãe – Yann respondeu, se desvencilhando da mãe, e pegando a caixa com o Selo de Celebi que eles haviam trazido e colocado em uma pequena mesa aos pés da escada, e dirigindo-se ao seu quarto falou: – meu pai ficará como Pastor “interino”, até eu conseguir toda a responsabilidade que esse cargo necessita.

Chegando ao quarto, colocou a caixa sobre seu criado mudo, e Charmeleon acomodou-se próximo da caixa, para protegê-la, enquanto Yann se despia para tomar um banho, no qual passou uns bons quarenta minutos quente e relaxante, graças as chamas do Charmeleon, que fervia a água e deixava todo o banheiro coberto de névoa. Sua cabeça não parava de repetir toda a história que seu pai havia contado e imagens, como que retiradas de algum local, e não criadas em sua cabeça, graças a riqueza dos detalhes, começavam a ser geradas na sua mente, o mostrando como deveria ser o mundo fora da Vila Serena e como o céu parecia ameaçador e temível.

Ao voltar para o quarto, o Charmeleon que estava sento ao lado do compartimento do banheiro estava brincando como um Eevee, com uma pequena garra negra, de um lado para o outro, parecido com uma bola de fios de lã. Yann vestiu-se para dormir e sentou-se do lado do seu companheiro, o acariciando na nuca, o que fez as chamas de sua cauda eriçar. Ele pegou nos seus braços o Selo de Celebi e o fica avaliando, percebendo que os olhos do seu Charmeleon também o seguiam. “Quanta responsabilidade, quanto peso esse pedaço de pano pode possuir” pensou durante alguns momentos. Por um momento, enquanto passava o selo entre seus dedos, ele sentiu um pequeno formigamento, como se este estivesse respondendo ao seu toque.

Deitou-se, com o fundo musical do barulho intenso da chuva que começava a cair lá fora, sendo precedida de não muito raros clarões distantes que se espalhavam por todo o céu. Ele quebrou o protocolo que tanto estimava, o registro de seus sonhos no diário noturno presente na cabeceira de sua cama, que durante tantas noites foram anotados após acontecer, dessa vez teria um registro antes do sono chegar, um registro que não saia de sua cabeça. Pegou então uma pequena pena, molhou na mistura negra que promovia a impressão dos movimentos na folha de grosseiro papel e colocou a seguinte frase:

‘Obrigado Celebi, ótimo, sou o “Pastor”, e agora?’

****

Os eventos que aconteceram após o diagnóstico da morte do Oddish somente trouxeram mais problemas para Wilson e Ian. Os moradores não diferenciavam mais as ações entre o pai ou o filho. A nomeação perante toda a sociedade fez com que os desejos que Ian possuíam em seu coração aflorassem e trouxessem para ele mais responsabilidade. A parceria com Wilson só fez melhorar e fortalecer esse sentimento, pois finalmente, ele poderia estar ao lado do pai em todos os assuntos importantes, convivendo com exemplos práticos de tudo que ele também queria desenvolver.

Quando estavam ainda providenciando os preparativos para a cerimônia de sepultamento do Oddish, mais relatos de Pokémons acometidos pela doença chegavam a Casa Central, com seus companheiros os carregando nos braços, desesperados por ajuda, mas também apareciam fazendeiros que encontravam as pobres criaturas caídas no chão, agonizando, ou traziam somente relatos de Pokémons mortos que enterraram próximos aos corpos de tantos outros que já haviam partido.

A gama de Pokémons acometidos tornou-se maior que qualquer outra peste que já houvesse atingido a população de Vila Serena, alguns começaram a chamá-la de a Peste Flavescente, já que está promove o aparecimento de manchas amareladas por todo o corpo, levando a feridas necrosadas com uma grande quantidade de pus sendo formada.

Reuniões intermináveis estavam ocorrendo na sala do Pastor e na sala dos Conselheiros, todas tentando resolver todos os problemas que apareciam, mas por mais que todos se empenhassem para promover a mais rápida solução, nada surtia efeito, pois no fim do dia, dez assuntos poderiam ter sido resolvidos, porém outros dez, senão doze, chegavam ao conhecimento do conselho e levava a todos para mais uma noite de sono mal dormida e muitas atitudes em suas cabeças para serem colocadas em práticas no dia seguinte.

Um dos casos mais perturbadores foi quando Rattatas e Raticates perderam o controle e acabaram provocando a derrubada, através de incansáveis roídas nas vigas principais de um pequeno armazém. Não era raro encontrar as pessoas que faziam parte do conselho trabalhando até altas horas da madrugada e se fazendo presentes nas primeiras horas da manhã.

Durante semanas esses eventos sempre se repetiam, eles conseguiam resolver quase todos os problemas, deixando poucos assuntos a serem resolvidos nas próximas reuniões, que agora aconteciam três vezes por semana, fato inusitado, uma vez que os conselheiros só se reuniam de forma mensal, para resolver, antes, assuntos corriqueiros, agora, com reuniões periódicas e frequentes, assuntos cada vez mais complicados eram temas recorrente de pauta.

Além dos assuntos sempre repetitivos, o tempo não estava ajudando muito, nos últimos dias uma forte onda de calor começou a atingir a todos, fazendo com que as roupas mais leves fossem vestidas e muitos Pokémons que possuem a capacidade de esguichar água faziam o favor de sugar as raras partículas da substância do ar e liberar pequenas “chuvas” durante momentos do dia, para deixar o ambiente mais suportável.

 

***

 

Mais um dia iniciava, e como de costume atualmente, este seria mais um dia com reuniões, como haviam sido tantos outros durante o ultimo mês, mas Wilson acordou um pouco mais introspectivo do que o de costume, quando desceu para tomar o café da manhã. Paola estava terminando de fritar os ovos e o bacon, com ajuda do Jigglypuff, Ian chegou logo depois dele, conversando sobre os assuntos que poderiam vir a ser discutidos durante a reunião de logo mais. O Alakazam já estava no seu local, esperando que o Jigglypuff o servisse e o Charmeleon chegou somente quando todos já estavam quase acabando o café.

– Filho, eu já te pedi para não serem comentados assuntos sobre trabalho no café da manhã, e você não está vendo, seu pai não parece esta bem, fique quieto – Paola falou quando Ian registrou a morte do Ratatta de Luana na ultima noite,  sussurrando baixinho a ultima parte da frase no ouvido de Ian, que colocou os ovos e o bacon sob a mesa para serem degustados. Wilson pareceu não desejar compartilhar qualquer atividade social até o momento e Ian percebeu que o aviso da mãe ao seu ouvido foi totalmente ignorado pelo pai, achando melhor não o atrapalhar também.

Após um café da manhã bem silencioso, sendo interrompido somente por rápidas tosses secas do Alakazam, todos se arrumaram e partiram para a Casa Central, onde Paola ficara com Rose auxiliando na organização dos registros em geral e os Pastores, como são chamados por todos no momento, partiram para mais uma reunião interminável sobre os problemas sempre crescente de Vila Serena, com previsão de término somente após o anoitecer.

Um detalhe que os chamou atenção por todo o caminho foi à falha que vinha ocorrendo na proteção de Celebi, uma vez que o céu estava demonstrando uma tonalidade bem mais escura que o normal e nada indicava que iria chover novamente, já que o clima só estava aumentando nos últimos dias e não cedia em momento algum, com aparecimento raro de nuvens.

Eles foram os primeiros a se colocarem na sala de reunião e então todos começaram a chegar, com profundas olheiras pelo trabalho incessante que vêm desempenhando. Todos se cumprimentam com acenos de cabeça e começam a conversar com os mais próximos que se sentam perto deles, esperando por todos chegarem. Cerca de dez minutos foi o suficiente para que todos se acomodassem e a reunião iniciou-se com as palavras de Ian.

Mais uma vez, horas se passaram para resolver os tantos problemas. Wilson não estava tão inspirado como de costume, suas ideias quase não foram lançadas, e durante muito tempo ele não falava nenhuma palavra se quer, a não ser quando era perguntado sobre determinado assunto. Isso fez então que Ian tomasse para si a responsabilidade de gerir toda a reunião.

As colheitas prejudicadas, o dique que havia sido infectado pelos corpos dos Pokémons mortos encontrados em sua margem, o desabamento de duas casas provocadas pela súbita revolta de alguns Diglets e Dugtrios que, como tantos outros Pokémons, após algum tempo mostravam-se estar confuso e não saber o que haviam causado, entre outros tantos eventos tão perturbadores quanto este, foram pauta da reunião e discutidos incansavelmente por todos, para chegar às melhores soluções.

Ian contava com a ajuda dos conselhos sempre bem colocados de Elisa, que mostravam uma coerência com as atitudes há qual deveriam ser tomadas, e não prejudicavam nem a vivencia normal da vila, como também não traziam grandes empecilhos àqueles que fossem atuar na resolução do problema.

Durante alguns posicionamentos do próprio Ian, alguns conselheiros não demonstravam muita aprovação, deixando em seus rostos um fio de incerteza sobre tomarem as atitudes sugeridas por ele. A sua juventude, a utopia da melhora e seu espírito sempre de liberdade eram terríveis oponentes quando se tentava convencer um grupo de experientes conselheiros de novos métodos de abordagem, Ian rapidamente percebeu isso durante as reuniões, e sentia mais forte agora, quando seu pai parecia o testar, com seu silêncio, que em certos momentos, acabava sendo constrangedor.

– Senhor Mentow, já conversamos sobre retirar o grupo de Machoke e Machamp da reconstrução das moradas que desabaram para retirar os corpos do dique, isso não acontecerá, outros Pokémons e mesmo as pessoas podem fazer isso, e está decidido. – Ian falava com uma seriedade quase não existente alguns dias antes neste mesmo garoto de feições gentis e despreocupadas, que agora começava a endurecer as responsabilidades que vinha absorvendo gradativamente de seu pai.

Peter Mentow pensou duas vezes em retrucar, sua boca mexia e remexia, mas nada saia, ele não tinha como bater de frente com o Pastor, então sentou-se emburrado novamente na cadeira se sentindo deslocado e chateado por ser aquele garoto a lhe dar ordens, a obrigar ele a escutar em silêncio uma atitude tão desnecessária, pensava ele, já que as casas se encontravam caídas, isso não traria nenhum problema em deixar por mais alguns dias algumas pessoas sem teto.

– Então, continuando os assuntos que possuímos em pauta – ele fez uma pausa e observou a janela que demonstrava que o sol deveria estar em seu ponto mais alto do céu, não gerando nenhuma sombra dentro da sala ou de qualquer outra construção da vila – gostaria que todos dessem suas ideias sobre o evento que nos foi trazido por Emerlina. Não havia chegado nenhum caso como o dela, mas vejo que uma força tarefa deverá ser formada para procurar o seu filho, uma vez que ele não passa de uma pequena criança de pouco mais de 4 anos.

Wilson finalmente começou a mostrar-se vivo dentro da reunião, de acordo com a notícia que vinha sendo lida por seu filho, ele levantou a cabeça e um olhar penetrante como fogo correu por toda a sala, observando cada rosto familiar com o qual ele convive a tantos anos, esperando que ele, ou alguém pudesse dar uma boa resposta, uma direção correta para esses problemas intermináveis que vem atingindo a todos desde o primeiro evento meteorológico estranho, ao qual, ele e Ian conseguiram relacionar com o aparecimento de Celebi para Ian, em sonhos.

Como que com um esforço terrível, ele levantou da cadeira e se colocou ao lado do filho, que até o momento não havia percebido a reanimação do pai. Wilson colocou a mão sobre o ombro do seu garoto, dando-lhe um sorriso tão raro de ser obtido nos últimos dias e se dirigindo a todos, porém a nenhum em especial.

- Teremos que sair, teremos que criar um grupo e descobrir o que vem causando essa instabilidade na proteção do Celebi. Eu guiarei o grupo e espero que alguns de vocês me sigam. – Todos simplesmente ficaram átonos com a frase e alguns segundos foram regados somente ao som de uma carroça de cereais passando do lado externo da sala de reuniões.

 

**** Em edição - Desculpe o transtorno (Parte de baixo sujeita a mudanças)

 

 

 

– Estou pensando há muito tempo sobre isso e essa última noite não consegui sequer dormir. Está na hora de tomarmos uma decisão que realmente irá resolver tudo isso, não há mais necessidade de passarmos por tantas turbulências, tantos problemas. Já entramos em contato com o Epans, mas nenhuma resposta foi dada até o momento, a Peste Flavescente está descontrolada quando se há casos, mas estamos com sorte que nenhum novo caso apareceu na cidade. Então devemos esperar um pouco mais por ele, já que tenho uma ideia que podemos colocar em prática o mais rápido possível, o que acabaria com esses tantos problemas.

Todos estavam ouvindo atentamente as informações que Wilson passava, tentando imaginar qual seria esse tipo de atitude que ele tomaria, e como somente uma atitude poderia trazer a todos o conforto e a certeza de um amanhã tranquilo. As esperanças de todos pareciam começar a se renovar, o rosto de cada um dos conselheiros que Wilson conhecia tão bem parecia estar começando a se mostrar bem mais aliviados que todas as ações e notícias que os últimos dias traziam, podiam ter promovido.

– Vocês sabem que existe um protetor para a nossa vila, desde tempos antigos, onde nossos ancestrais viajavam por todos os cantos do nosso planeta, desbravavam lugares além dos Mares que Caem e das Montanhas do Sussurro, eles eram conhecidos por todos como pessoas boas e que andam lado a lado com o grande Arceus e a natureza como um todo, mas esses dias de glória vieram ao fim quando nosso estimado protetor foi atacado, capturado, manipulado e escravizado por seres perversos, que não merecem a alcunha de seres humanos, mas não antes dele ter unido todo o seu poder em uma grande extensão de terra e protegido a todos que o respeitavam e o adoravam como verdadeiro criador.

Todos concordavam com a cabeça, sem saber onde Wilson desejava chegar com uma história tão antiga, que mais era conhecida como um conto infantil que uma história verídica sobre a chegada dos habitantes a vila e suas crenças, já que ninguém jamais viu tal figura mitológica, o “grande” Arceus.

– Com certeza todos devem estar se perguntando o porquê dessa breve explanação da história, que muitos acreditam ser infantil. Na realidade, poucos habitantes dessa vila, durante todas as gerações que já moraram por aqui, souberam diferenciar que partes dos contos que nos contamos as crianças são fantasia e qual parte poderia ser traduzida como real, e que aconteceu antes mesmo dessa vila existir. Boa parte dessa história trata somente da verdade. Arceus realmente existiu, não há como provar sua existência atualmente, mas ele era um Pokémon muito cultuado por todos os povos.

Os conselheiros começaram a olhar com expressões faciais incrédulas, mas não seria mentira, não tinha como ser mentira, essa história contada por Wilson, pois, que sempre foi um bom Pastor, sempre cultivava a moral e a verdade, não inventaria uma história tão boba, infantil, inconsequente, apenas para se divertir, isso estava simplesmente distante do caráter do ex-Pastor. Todos estavam focados somente em Wilson, mas as expressões no rosto de Ian iam se tornando cada vez mais estranhas.

Caso um observador externo da cena presenciasse tal acontecimento, teria expressado sonoras gargalhadas das caras e bocas que Ian realizava, não que desejasse, mas ele estava intrigado, abismado e consternado pelas afirmações que o pai estava fazendo, afirmações essas que ele havia escutado, em extremíssimo segredo, dias antes, e que deveriam ser guardadas com sete chaves, protegidas com a morte e esquecidas durante toda a vida, sendo lembrada somente quando um novo Pastor surgisse.

– Não fiquem abismados, não se preocupem, sei que pode parecer loucura, insensatez, mas temos que encarar os fatos. E para encará-los, devo explicar a vocês o que faremos e somente assim poderemos ver quantos de vocês estarão dispostos e aptos a seguirem caminho comigo.

Mais uma vez todos simplesmente acenaram com a cabeça em forma afirmativa e continuaram a escutar as verdades que o ex-Pastor estava revelando.

– Não tratou-se de uma intervenção do grande Arceus a nossa proteção, na realidade, outro ser mitológico, bem pequeno e muitas vezes esquecido por todos foi o único responsável por nossa proteção, uma vez que ele conduziu um grande grupo de jovens para fora das cidades grandes, um local onde muitas casas e locais de comércio residem em conjunto, como um grande, enorme conjunto de vilas, como a nossa. As cidades das quais esses jovens saíram estavam sendo destruídas, queimadas, inundadas, sendo realmente massacradas por força dos seres imperdoáveis que captaram o que todos pensavam ser o inabalável protetor.

– O protetor Arceus se transformou em uma máquina de guerra, destruiu milhares de famílias e vidas, e graças a esse nosso pequeno ajudante, nossos antepassados saíram dos seus locais e se reuniram aqui, onde hoje estamos. Eles então entraram em comum acordo, onde os seres humanos aqui presentes cuidaram da terra, da água e do ar e lá fora, ele iria cuidar da nossa proteção. Deste modo, uma grande barreira foi sendo criada com a ajuda de muitos Pokémons que interagiram com a mente, transformando a vontade de mudanças em algo concreto, uma habilidade rara entre aquelas espécies que nos conhecemos, mas que é facilmente encontrada nos limites mais externos do nosso grande lar.

Os conselheiros estavam abismados com tais informações, jamais pensaram que isso era o que os havia feito tornarem-se somente uma pequena comunidade, formada basicamente de primos, familiares consanguíneos.

– E de acordo com os eventos que vêm acontecendo recentemente, não há outra explicação que não seja a necessidade de ajuda do nosso protetor, o Celebi, um Pokémon que a gerações vem se mostrando aos Pastores, os auxiliando a guiar a vila da melhor maneira possível, por isso lanço a tal ideia, tenho plena certeza que estas aparições, e o pedido explícito de ajuda, realizado por ele ao meu filho, só podem indicar que nosso protetor está passando por sérios problemas, e somente um grupo experiente como o nosso pode o ajudar.

Alguns concordaram com acenos de cabeça a ideia que estava sendo lançada, mas Ian demorou algum tempo para processar essas informações e perceber qual era a tal ideia que seu pai estava lançando. Com incredulidade a ideia parecia se materializar na cabeça de Ian mais rápido que ele gostaria e percebeu que o seu pai havia proposto que um grupo saísse da vila, vagasse pelo mundo e fosse até o extremo limite que seu povo alguma vez já alcançou.

– Pai, como o senhor tem certeza que o Celebi estará nesse local, se ele vem a mim, ele deve estar próximo, você não acha? Ian perguntou tentando argumentar com o pai para não ser necessário essa viagem exploratória.

– Senhor Pastor, sei que isso não é uma coisa comum a ser pedida, mas solicito que seja considerada por você a necessidade de uma busca pelo Celebi para consertamos os problemas principais que vem afligindo nossa vila. Não consigo mais ver Pokémons bons sendo mortos por uma doença desconhecida, ou enlouquecendo por razões totalmente alheias a nós, o que culminou no sumiço do filho da nossa queria Emerlina, sendo assim gostaria que o senhor aceitasse meu pedido para comandar esse grupo, que teriam destaques em nosso conselho, ao qual convido o meu grande amigo Peter Mentow, que sempre está lá quando preciso e dá o suporte certo e conselhos muito relevantes. Como também a nossa queria Elisa Healling, que seria de grande avalia para a nossa caminhada, uma vez que ela e seu Chansey nos dariam suportes em qualquer situação. Além dos dois também gostaria de convidar a Rose Teodor, uma parceira que posso contar todas as horas e Anthony Marvin, que mesmo com seu temperamento ácido (ele deu um sorriso maroto em direção a Anthony que estava sentando ao lado de Rose) sempre é um bom amigo e jamais abandonaria uma causa.

Todos os nomes que foram falados iam se levantando à menção de seus nomes, e concordando em apoiar o ex-Pastor nessa sua expedição ao encontro do Celebi, para ajuda-lo e proteger a todos da vila. Ian não soube como avaliar a situação, até o momento seu pai nunca o havia solicitado com tanta seriedade algo, e principalmente o chamando de Pastor e se prostrando frente a ele para realizar tal pedido. Com a garganta seca, sem saber qual decisão tomar, ele tossiu e começou a dizer.

– Bem, senhor Wilson (achou melhor seguir o padrão da conversa, que estava se tornando cada vez menos informal e assumindo um tom mais sério e adulto), o assunto deverá ser avaliado por mim, que tenho plena convicção que em alguns momentos darei uma resposta, se todos vocês me permitem, gostaria de ficar um momento sozinho, ficarei na minha sala por alguns momentos e trarei a resposta para vocês – Falando isso ele se levantou e saiu pela porta, se dirigindo a sua sala.

Ao entrar, as lágrimas começaram a rolar por seu rosto, todas as histórias que os habitantes contavam sobre as viagens exploratórias ao redor das terras da Vila Serena nunca acabam de forma feliz, pois, em muitos casos, para ser mais exato, em todos os casos, as pessoas que partiam jamais retornavam, e isso estava consumindo a cabeça de Ian, se deixasse o seu pai e o grupo que ele escolheu partir, haveria provavelmente uma grande possibilidade de a partida ser a ultima vez que os veria. O seu Charmeleon estava na sala de Ian, recolhido a um canto, envolto em um cochilo que estava acostumado nos últimos dias, enquanto todos ficavam conversando por horas na sala de reunião. As escamas do Pokémon estavam fortemente iluminadas pelo sol que entrava pela janela e aquecia ainda mais a pele do lagarto que expressava em suas chamas, presentes na calda, o gosto pelo calor que o inundava.

Envolto em profundos pensamentos, e tentando não chamar a atenção do Charmeleon, pois desejava realmente ficar sozinho naquele momento, Ian não conseguia parar de pensar nas visões que teve com Celebi e no que elas poderiam significar. Também não conseguia parar de reviver em sua mente as imagens perturbadoras que comumente estavam aparecendo em seus sonhos, sobre as cidades totalmente destruídas e os locais que só podiam ser encontrados grandes pedaços de terra que serviam apenas como cemitérios.

Cerca de meia hora se passou e Ian finalmente retornou a sala de reuniões, todos estavam prestando atenção nas palavras que ele iria pronunciar, mas Wilson mostrava que conhecia o filho mais que ele mesmo achava que poderia acontecer, pois chegou próximo ao filho e lhe deu um abraço, trazendo conforto e um calor que deveria ser semelhante ao que seu Charmeleon estava experimentando na sala ao lado.

– Filho, não se preocupe, eu sei que você tomara a decisão mais justa. Faça sem pressões, estamos aqui para cuidar uns dos outros, e você aprendeu bem como fazer isso, confio plenamente em você – As palavras foram faladas durante o abraço e faziam com que Ian sentisse cada vez pior pela posição que ele havia tomado, como se já tomar qualquer partido dessa situação já não fosse difícil suficiente, agora ainda tinha que escutar esse desabafo de seu pai, mostrando o orgulho que sentia por ele, e ainda assim o dando total responsabilidade sobre a vida dos cinco que participariam do grupo.

– Bem, hum hum..., – ele fez limpando a garganta para proferir sua escolha – Eu tenho plena convicção que todos vocês que foram chamados pelo ex-Pastor sabem que nossa vila precisa de seus conhecimentos, de seus ensinamentos e que presam muito a sua estadia nesse local. Sei que todos nós somos insubstituíveis, mas podemos dar um jeito para diminuirmos os danos causados pela falta de determinada pessoa em nossa sociedade, por essa razão e por saber que o Celebi realmente está em perigo, caso não, jamais teria pedido nossa ajuda, fato que nunca aconteceu desde as primeiras gerações de nossa Vila – ele observava a todos escutando atentamente seu pronunciamento, alguns excitados com a expectativa de sair dos terrenos conhecidos da vila e outros apreensivos com a iminente saída desses, o que poderia, como Ian também não desejava, mas possuía em seu consciente, a possibilidade de nunca mais os ver novamente – Vocês estão autorizados, caso desejem, a procurar o nosso protetor e ajudá-lo no que este estiver precisando, porém com a principal função de descobrir o porquê das ultimas atitudes que os Pokémons estão realizando, como podemos resolver tal situação e como podemos retornar a nossos dias de paz.

Um sentimento de alivio e instantânea saudade varreu toda a sala, em instantes todos estavam se abraçando, como se fossem os últimos momentos entre todos, naquela formação, daquele modo. As lágrimas se tornaram normais durante mais de vinte minutos, e ficou então decidido que o grupo iria se reunir nas primeiras horas do dia seguinte, para exploração das novas terras. O resto do dia traria a todos um pouco de “folga” das atividades que estavam desempenhando, para arrumação do material que seria levado junto ao grupo na viagem e tentar reorganizar os trabalhadores na ocupação dos lugares que ficariam vagos, tanto nas atividades diárias, como nas cadeiras do conselho.